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Mobilidade elétrica no Brasil: entre o desafio regulatório e a urgência da inovação estratégica

Brenda Lopes
03 de agosto de 2025
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A transição para a mobilidade elétrica no Brasil não se resume à mera substituição dos motores a combustão por propulsão elétrica. Ela representa um ponto de inflexão que articula dimensões tecnológicas, econômicas, ambientais e sociais. Inserido em um contexto global de descarbonização e avanços disruptivos, o país enfrenta um dilema crucial: construir políticas públicas que protejam setores estabelecidos sem sacrificar a capacidade de inovação e competitividade em um mercado emergente e dinâmico.

Nos últimos anos, o Congresso Nacional tem protagonizado iniciativas legislativas para instituir uma política nacional de mobilidade elétrica. O Projeto de Lei 1.245/2025, por exemplo, visa estabelecer diretrizes para fomento à produção, comercialização, infraestrutura de recarga e pesquisa tecnológica, propondo mecanismos fiscais e regulatórios que estimulem a adoção massiva de veículos elétricos. A proposta contempla ainda a regulamentação de programas de incentivo à indústria nacional, regras para reciclagem de baterias e normas ambientais para toda a cadeia produtiva.

Contudo, o desenho regulatório deve ser concebido com sofisticação técnica e visão de futuro para não se tornar um empecilho à inovação. Segundo um estudo da McKinsey, o futuro da mobilidade no Brasil está profundamente ligado à integração de soluções digitais, energias renováveis e modelos de negócios ágeis, que se apoiam em ecossistemas colaborativos. A eletrificação veicular, nesse cenário, não é apenas uma questão de mudança de fonte energética, mas um vetor de transformação urbana, logística e industrial.

Para contextualizar, a mobilidade elétrica compreende diversos elementos tecnológicos complexos: os motores elétricos, que oferecem torque instantâneo e eficiência energética superior aos motores térmicos; os sistemas de baterias de íon-lítio, cujo avanço em densidade energética e segurança é fundamental para autonomia e viabilidade comercial; e as redes de recarga, que demandam integração com a matriz energética brasileira, cada vez mais diversificada em fontes renováveis como solar e eólica.

Energia Limpa
Energia limpa - Eólica e Solar

Outro componente essencial é a digitalização da infraestrutura, viabilizada por protocolos como OCPP (Open Charge Point Protocol) e sistemas de gestão de energia veicular (V2G – Vehicle-to-Grid), que possibilitam interações dinâmicas entre veículos, pontos de recarga e a rede elétrica. Esta convergência tecnológica potencializa a eficiência energética, equilibrando demanda e oferta, reduzindo custos e ampliando a sustentabilidade do sistema.

O Brasil, com sua abundância de recursos naturais e matriz elétrica predominantemente limpa (cerca de 80% de renováveis), tem vantagem competitiva para liderar esse processo. Entretanto, a necessidade de uma política integrada é urgente, pois desafios regulatórios, infraestrutura insuficiente e a ausência de um marco regulatório claro ainda travam a expansão da mobilidade elétrica.

Além disso, o país precisa lidar com questões estruturais como a cadeia de suprimentos, formação técnica especializada e o estímulo à inovação local. A proteção excessiva de segmentos tradicionais da indústria automotiva pode comprometer a chegada de novas tecnologias, enquanto a abertura desregulada pode gerar riscos econômicos e sociais. O equilíbrio, portanto, é a chave.

Este contexto convida a uma reflexão mais profunda sobre o papel da mobilidade elétrica como vetor de inovação que transcende o setor automotivo. Seu impacto atinge a geração e distribuição de energia, a urbanização inteligente, a inclusão social e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

E o Brasil, ao situar-se nessa encruzilhada, tem a oportunidade — talvez a última — de definir não apenas um setor, mas uma nova fase do desenvolvimento sustentável.