NIU Concept 06, potência de 20 kW, IA e cockpit de motocicleta
Por Daniel Yüan Tsao
Assuntos
Compartilhe com seus amigos
A NIU levou ao EICMA um exercício de engenharia que soa menos como rascunho e mais como carta de intenções. A Concept 06 nasce com motor lateral de 20 kW, velocidade máxima anunciada de 155 km/h, pacote eletrônico de apoio ao condutor e uma proposta de experiência que mistura scooter e gran turismo urbano. O objetivo é simples de entender e complexo de executar: transformar a comodidade de um step-through em desempenho, conectividade e segurança típicos de motos maiores.

Potência e dinâmica: o lado “moto” da scooter
A peça central é o motor elétrico montado lateralmente com 20.000 W de pico, solução que libera espaço no chassi, facilita arrefecimento e simplifica a transmissão. Com esse conjunto, a NIU fala em 155 km/h, patamar de maxi-scooters premium. A suspensão TKX.LAB foi escolhida para absorver irregularidades sem perder precisão de curva, e o duplo disco de freio vem casado a controle eletrônico para modulação consistente. Em termos de engenharia, o acerto é coerente: motor capaz de manter cruzeiro elevado, suspensão voltada à estabilidade e freios dimensionados para massa e velocidade.
Por dentro da motorização
- Motor lateral de 20 kW: arquitetura que afasta calor de componentes sensíveis e reduz perdas por transmissão, útil para acelerações repetidas em uso urbano-rodoviário.
- Gestão térmica: o posicionamento favorece rotas de dissipação mais curtas, preservando desempenho em ciclos prolongados.
- Frenagem: dois discos com assistência eletrônica para segurar ritmo alto sem fadiga e melhorar consistência em piso molhado.
Cockpit digital e IA: interface de carro, ergonomia de scooter
A Concept 06 exibe um TFT de 9,3" com o novo Linx OS, pensado para centralizar telemetria, navegação e configurações. O controle é complementado por um Screen Dial que integra comandos de forma contínua, reduzindo a “caça” a botões. A protagonista do software é a co-pilot de IA, assistente que aprende hábitos, ajusta recomendações e gerencia sistemas de segurança e conforto em tempo real. Na prática, a moto tenta antecipar a próxima ação do piloto, reduzindo carga cognitiva tanto no trânsito denso quanto em trechos rápidos.

Iluminação e projeções: ver e ser visto
O conjunto ótico traz farol com feixe adaptativo, que ajusta a distribuição conforme ambiente. O assoalho recebe iluminação ambiente dinâmica, útil para percepção espacial em baixas velocidades. A traseira conta com radar para monitorar aproximação e avisos no painel, além de projeções no piso para alertar o tráfego ao redor em situações críticas. É a migração natural de tecnologias automotivas para duas rodas, com foco em sinalização ativa e contraste visual em cenários urbanos.
Ajudas ao condutor e usabilidade: GT de bolso
A NIU empilha funções típicas de motos touring em um step-through:
- Cruise Control Adaptativo para manter ritmo com intervenções mínimas.
- Hill-Start Assist e Hill Descent Control que estabilizam partidas e descidas íngremes.
- Guidão e para-brisa elétricos com ajuste fino para diferentes biotipos.
- Push Assist para manobras a baixa velocidade e Two-Way Grip com avanço, ré e controle de regeneração no punho.
- Assento com abertura automática e sensor de pressão dos pneus integrado.
Em segurança passiva e evidencial, há câmeras frontal, do condutor e traseira, Sentry Mode para gravação de eventos e Riding Record com status em tempo real via app. É um ecossistema alinhado à rotina de quem estaciona na rua, quer registrar incidentes e ajustar ergonomia sem improvisos.
Bateria e autonomia: o que falta e o que a engenharia sugere
A NIU ainda não divulgou capacidade nem química da bateria. Considerando a ambição de desempenho, o espaço disponível e o posicionamento no segmento, estimativas técnicas plausíveis apontam para pack na faixa de 6 a 9 kWh, com autonomia realista acima de 150 km se houver gerenciamento eficiente e regeneração bem calibrada. São hipóteses, não números oficiais. O essencial é notar que a arquitetura e a proposta de uso comportam esse patamar sem tornar o conjunto desproporcional.
Onde a Concept 06 se encaixa no portfólio
A marca já oferece scooters elétricas urbanas voltadas à eficiência e ao custo de uso. A Concept 06 opera em outra camada: aceleração forte, cruzeiro alto, eletrônica avançada e cockpit sofisticado. Ela funciona como vitrine tecnológica com potencial de “descer” para linhas de série.

O que observar a partir daqui
- Especificações finais de bateria: capacidade, química, refrigeração e recarga, que definem autonomia e durabilidade.
- Nível de produção: o que vai do protótipo para o showroom e em que prazos.
- Pacote de ADAS em série: radar traseiro, projeções e IA co-pilot como itens de linha ou opcionais.
- Integração app-veículo: amplitude do Riding Record e do Sentry Mode, além da política de dados.
- Comparativos com maxi-scooters elétricas de série: se os 155 km/h chegarem ao produto final com boa autonomia, a régua do segmento sobe.
No saldo, a Concept 06 não tenta anunciar o futuro, tenta compactá-lo num chassi que aceita mala, ajuste elétrico e tela grande. Se a ficha técnica se confirmar, a pergunta muda de “por que uma scooter tão rápida” para “por que um trânsito tão lento para ela”.
