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HUD à prova de rua: o capacete que coloca a interface no horizonte

Erik Perin
07 de novembro de 2025
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A parceria entre Shoei e EyeLights materializou algo que o motociclismo prometia há anos e nunca entregou em série: um head-up display nativo de fábrica. Batizado de GT-Air 3 Smart, o capacete estreia no EICMA com um módulo de nano-OLED projetando, no campo de visão do piloto, velocidade, navegação curva-a-curva, avisos de rota e notificações essenciais — sem que o olhar abandone a pista. A diferença, aqui, não é cosmética: é ergonomia cognitiva. Em vez de obrigar o cérebro a fazer micro-saltos entre painel, smartphone no guidão e tráfego real, a informação “paira” no horizonte, reduzindo tempo de desvio do olhar e encurtando o ciclo ver-compreender-agir.

Tenha um HUD no Capacete
Tenha um HUD no Capacete

Tecnicamente, o sistema resolve três pontos críticos que sempre travaram HUDs de moto. Primeiro, brilho: o nano-OLED chega a patamares de milhares de nits, mantendo legibilidade em sol a pino sem apagar à noite graças ao auto-dimming. Segundo, paralaxe e foco: a ótica projeta o conteúdo a uma distância virtual confortável, evitando fadiga por refocagem constante entre asfalto próximo e visor. Terceiro, integração: nada de gambiarras penduradas. O módulo conversa com o backbone do capacete, alimenta-se internamente e funciona em concerto com intercom universal (malha mesh e modo online), permitindo grupos grandes sem prisão a uma única marca. Na prática, o piloto escolhe camadas de informação (velocidade, setas, alertas), define o nível de intrusão e deixa o resto por conta do software — que filtra o ruído e prioriza o que importa.

A plataforma parte do GT-Air 3 — casco de turismo esportivo da Shoei — e herda a base de engenharia: casco AIM (multicomposto), viseira CNS-1C de nova geração, aerodinâmica silenciosa e ventilação redesenhada. O “Smart” acrescenta a unidade HUD, microfones e speakers de alta qualidade, além do stack de conectividade que dá serenidade à promessa: ligar, parear, rodar. Em termos de engenharia de falhas, o sistema é conservador: se a telemática cair, o capacete segue sendo um GT-Air 3 completo; se o HUD ficar sem bateria, ele simplesmente não projeta — sem surpresas no campo de visão. E como toda tecnologia de projeção em ambiente vibratório, a calibração fina (altura, tilt, tamanho dos elementos) é parte do ritual inicial, feita uma vez e salva no perfil do usuário.

Visual externo
Visual externo

No uso real, o ganho vai além do “cool factor”. Navegação deixa de ser “ouvir setas” para ser ver a trajetória discretamente. Alertas (chuva, radar, bateria da moto/telefone) passam a competir menos com o ambiente sonoro. E o intercom com malha mesh resolve a velha dor de grupos que quebravam pareamentos a cada esquina: aqui, a rede reconfigura sozinha. Em design, a Shoei mantém a gramática limpa — nada que traia a aerodinâmica — e oferece opções de cor e tamanho como em qualquer GT-Air 3, sinal claro de que a marca quer produção regular, não edição curiosa de vitrine.

Há limites e responsabilidades. HUD não é licença para sobrecarregar a vista; é convite à curadoria minimalista: menos widgets, mais estrada. Do ponto de vista de mercado, a estreia em salão com pré-venda imediata e rede de cores/tamanhos sugere industrialização madura. Do ponto de vista histórico, é um divisor de águas discreto: depois de anos de soluções encaixadas, chegou o primeiro capacete “nascido HUD”. A partir daqui, comparar “capacete de turismo” sem e com interface projetada deixará de ser exótico e passará a ser… comparável.


Se a moto é linguagem, o capacete virou pontuação. O GT-Air 3 Smart troca o ponto de interrogação da gambiarra tecnológica pelo ponto e vírgula da rotina: você continua lendo a estrada — agora com notas de rodapé no horizonte.