TM-B: a e-bike que transforma modularidade em sistema
Por Erik Perin
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A ALSO, nova marca de micromobilidade surgida do ecossistema da Rivian, apresentou a TM-B, e a sensação é a de que alguém pegou o manual tradicional das e-bikes e o reescreveu do zero. Em vez de “mais uma bicicleta com motor”, o que se vê é uma plataforma: quadro modular que muda de personalidade em segundos (urbana, utilitária, cruiser), cockpit com tela de 5" e bloqueio por NFC, integração nativa com capacete conectado, e — sobretudo — um trem de força pedal-by-wire que separa a sua pedalada da tração. Você gira os pedais e alimenta um gerador; quem move a roda é um motor dedicado, via correia Gates. É o mesmo raciocínio que a indústria automotiva usa ao separar geração e tração em elétricos: controle fino, regen consistente, mais opções de calibração.

A bateria segue a lógica de “peça de carro num veículo leve”: construção a padrão automotivo, duas capacidades (uma voltada a uso diário, outra a autonomia estendida), alça retrátil para transporte e papel duplo como power bank de alta potência com USB-C — útil no mundo real. Em números divulgados, falamos de até 160 km de alcance idealizado, torque de pico na casa dos 180 N·m, assistência que pode multiplicar o esforço do ciclista por cinco ou por dez (dependendo da versão) e classe 3 com top-speed assistida típica para o mercado norte-americano. O pacote amarra com ABS/regen, partida com throttle para trechos de cruzeiro, anti-fraude com alertas e “brick” remoto em caso de roubo, além de serviço em rede automotiva — algo raro no universo de e-bikes, onde peças e manutenção costumam ser o calcanhar de Aquiles.
No design, a graça está menos no “wow” e mais na engenharia de uso. O quadro aceita top frames intercambiáveis (banco tipo scooter, selim esportivo, longtail com rack), abrindo espaço para o mantra “uma bike, vários papéis” — do commuting ao carrego de criança e compras, sem empilhar veículos na garagem. A arquitetura 400 V (para dimensionar eletrônica e segurança) aqui dá lugar a uma solução otimizada para baixa tensão e alta corrente, com BMS que regula SoC/SoH, temperatura e potência conforme o contexto: frio, subida, tráfego, pressa. A curva de recarga foi pensada para que 0–80% aconteça rápido o suficiente no cotidiano — e o resto, francamente, fica para a noite. No front-end, a tela concentra navegação, modos de assistência, chamadas e música, dispensando gambiarras de celular no guidão. É um produto que carrega um subtexto: normalizar micromobilidade com qualidade automotiva, do conector ao pós-venda.

Preço e logística miram escala sem prometer o impossível: lote de lançamento premium e uma versão base mais acessível, com entregas planejadas para o próximo ciclo. O detalhe que vale ouro está fora do release: roaming de serviço e padronização de componentes, que permitem a um proprietário cruzar a cidade e, se algo falhar, ser atendido numa oficina estruturada — menos fórum, mais SLA. Se a execução acompanhar o discurso, a TM-B aponta para onde a micromobilidade precisa ir: sair do hobby, entrar na rotina e conversar de igual para igual com o ecossistema de energia, dados e manutenção.
O que a ALSO coloca na rua não é uma bicicleta; é uma API sobre rodas. Quem entender isso primeiro vai parar menos no acostamento — e mais na agenda do usuário.
