Recarga sob demanda: o novo capítulo da eletrificação no transporte por app

Por Wallace Cardozo
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No cerne da mobilidade elétrica urbana, onde a conveniência se entrelaça com a eficiência energética, uma nova iniciativa promete redesenhar a experiência de quem dirige profissionalmente um veículo elétrico no Brasil. A 99, uma das principais plataformas de mobilidade do país, acaba de lançar um ecossistema digital de recarga exclusivo para motoristas parceiros, marcando uma inflexão importante no processo de eletrificação do transporte por aplicativo.
A nova solução é mais do que um simples aplicativo. Trata-se de uma plataforma verticalizada, voltada especificamente para gestão inteligente de carregamento veicular. Por meio dela, motoristas podem localizar eletropostos públicos em tempo real, visualizar disponibilidade de tomadas, estimar o tempo necessário para a recarga com base no modelo do veículo e, sobretudo, integrar o pagamento diretamente na própria interface do app. O sistema, disponível inicialmente em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Salvador, já conecta centenas de pontos de recarga espalhados por diferentes redes.
No centro da operação, está uma infraestrutura digital baseada em APIs abertas e protocolos OCPP (Open Charge Point Protocol), o que permite interoperabilidade com diversas operadoras de carregamento e, consequentemente, maior flexibilidade para o motorista. Além disso, a plataforma é compatível com recargas em corrente alternada (AC), geralmente entre 7,4 kW e 22 kW, e corrente contínua (DC), com potências que vão de 50 kW até 150 kW em eletropostos ultrarrápidos, quando disponíveis.
Um dos diferenciais está no algoritmo de recomendação, que cruza dados de localização, nível de bateria e hábitos de recarga do condutor para sugerir os pontos mais estratégicos, seja pelo tempo de carregamento, seja pela vantagem econômica. O sistema também exibe o custo estimado por kWh, considerando tarifas dinâmicas, e oferece benefícios progressivos para usuários frequentes, como cashback por kWh e isenção de taxas administrativas em horários de baixa demanda.
Outro ponto notável é o investimento em dados. A partir do uso contínuo da plataforma, será possível construir uma matriz de comportamento energético dos motoristas parceiros, útil tanto para políticas públicas quanto para o dimensionamento futuro da infraestrutura de recarga. Essa inteligência de dados poderá guiar a expansão da malha elétrica com mais precisão, conectando o setor privado à transição energética urbana de forma mensurável.

A experiência foi desenhada para motoristas que têm o veículo como principal instrumento de trabalho, e cujas jornadas dependem não apenas da velocidade de deslocamento, mas da previsibilidade da operação elétrica. Nesse contexto, uma recarga eficiente pode significar a diferença entre um turno produtivo e horas perdidas em espera ou deslocamentos desnecessários.
Vale lembrar que, segundo dados recentes da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), mais de 60% dos motoristas de carros por aplicativo na cidade de São Paulo já consideram migrar para um modelo elétrico até 2026. Um dos principais obstáculos, no entanto, permanece sendo o acesso descomplicado à infraestrutura de recarga. A resposta agora não está apenas nos eletropostos físicos, mas na inteligência digital que os conecta, e no desenho de serviços pensados especificamente para quem vive da mobilidade.
Esse novo capítulo inaugura não só uma camada adicional de serviço, mas um paradigma: o de que a mobilidade elétrica só se consolida quando consegue integrar infraestrutura, software e experiência do usuário. E, no caso dos motoristas profissionais, isso significa menos fricção, mais autonomia e, sobretudo, tempo convertido em valor.