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Alcance redefinido: quando o elétrico prova sua superioridade sobre a combustão

Brenda Lopes
21 de agosto de 2025
Acessos: 26

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A paisagem da mobilidade elétrica acaba de ganhar um marco incontornável. Um SUV totalmente elétrico, de série e sem adaptações técnicas, percorreu 935 quilômetros em vias públicas do Reino Unido sem qualquer recarga intermediária. Não se trata de um feito em condições artificiais de laboratório, nem de uma façanha de marketing com rota especialmente preparada: foi um teste auditado, validado por telemetria, GPS e odômetro, conduzido em estradas reais, com clima instável e tráfego cotidiano. Esse recorde mundial de autonomia traz um dado que vai além dos números: ele coloca em xeque a supremacia histórica dos motores a combustão, demonstrando que, em pleno 2025, os elétricos já não competem apenas em promessa, mas em realidade concreta.

O veículo em questão foi equipado com uma bateria de 107 kWh, na configuração de motor único traseiro. Sua eficiência média durante o trajeto foi de 12,1 kWh a cada 100 km — ou, em outras palavras, cerca de 8,3 km por kWh consumido. Para efeito de comparação, esse desempenho equivale a superar os limites homologados em ciclos de testes padronizados como WLTP ou EPA, que já costumam ser generosos com a combustão. E o dado mais intrigante: mesmo após o painel exibir 0% de carga, o SUV ainda rodou mais 12,8 quilômetros, provando que a margem de segurança de software das baterias não é mero detalhe, mas parte de um ecossistema técnico pensado para eliminar a ansiedade do condutor.

Essa conquista não pode ser analisada apenas como uma façanha de resistência. Ela traduz os fundamentos técnicos que conferem aos elétricos uma vantagem inquestionável. Enquanto motores a combustão desperdiçam mais de 70% da energia do combustível em forma de calor e atrito, os elétricos convertem cerca de 90% da eletricidade em movimento útil. A frenagem regenerativa, capaz de devolver energia cinética à bateria, é um conceito inexistente nos veículos tradicionais. Além disso, o torque instantâneo e a entrega linear de potência fazem com que o esforço do motor se traduza em aceleração suave e constante, sem a oscilação típica dos câmbios mecânicos.

Polestar 3 - traseira
Traseira do Polestar 3

O recorde também ilumina aspectos muitas vezes ignorados pela crítica apressada. O arrasto aerodinâmico cresce proporcionalmente ao quadrado da velocidade, o que penaliza o consumo em estrada. Mesmo assim, conduzido a uma média de 40 km/h, o veículo não apenas cumpriu sua meta: ele superou expectativas. E esse dado revela algo essencial. Se, com tecnologia disponível hoje, já é possível alcançar autonomias de quase mil quilômetros em condições urbanas reais, o que esperar dos avanços em curso? As baterias de estado sólido, atualmente em desenvolvimento, prometem densidades energéticas da ordem de 600 Wh/kg, o que projeta autonomias próximas a 2.000 quilômetros por carga em um futuro muito próximo.

É importante situar este marco dentro de um contexto mais amplo. Outros recordes recentes, como o da picape Silverado EV que percorreu mais de 1.700 quilômetros em condições de direção extrema, ou o da Lucid Motors, que chegou a 1.205 quilômetros em um trajeto predominantemente em descida, revelam que a indústria está tensionando seus limites. No entanto, o que distingue o caso britânico é a sua honestidade metodológica: um veículo de série, sem ajustes artificiais, submetido a condições comuns de uso. Ou seja, aquilo que qualquer consumidor poderia reproduzir, desde que disposto a dirigir de forma inteligente e moderada.

Ao comparar essa realidade com uma moto a combustão, a diferença se torna ainda mais evidente. Enquanto motocicletas dependem de tanques pequenos, ciclos constantes de abastecimento e manutenção frequente — troca de óleo, filtros, velas, correias —, o autopropelido elétrico exige muito menos atenção e oferece um custo operacional reduzido. O quilômetro rodado em energia elétrica custa uma fração do mesmo trajeto a gasolina. Some-se a isso o silêncio de rodagem, a ausência de vibração e a experiência de condução refinada e é possível perceber que não se trata apenas de uma escolha tecnológica, mas de uma transição cultural. O condutor deixa de ser refém do posto de combustível e passa a controlar sua própria fonte de energia, seja em carregadores públicos, seja em casa, durante a madrugada.

Há também o aspecto ambiental, que não pode ser ignorado. O impacto de um veículo elétrico, considerando todo o ciclo de vida, é significativamente menor em emissões de gases de efeito estufa do que o de um veículo a combustão. E à medida que a matriz elétrica de cada país se torna mais limpa, essa diferença se amplifica. No Brasil, por exemplo, onde a base da geração é hídrica, a equação já é francamente favorável.

O que o recorde de 935 quilômetros realmente prova não é apenas que o elétrico pode ir mais longe. Ele mostra que a discussão deixou de ser sobre limitações e passou a ser sobre possibilidades. O veículo elétrico já não é promessa distante: é presente concreto. E, diante desse cenário, a questão mais pertinente não é se vale a pena abandonar a combustão, mas por que continuar a insistir nela.