EX2 no Brasil: o elétrico da Geely que transforma "barato" em engenharia

Por Erik Perin
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Não é só mais um desembarque: o Geely EX2, hatch elétrico urbano, chegou ao país com lançamento comercial previsto para novembro. Na China, onde atende pelo nome Xingyuan, ele virou fenômeno de volume em 2025 — um recado de que preço acessível pode coexistir com um pacote elétrico bem resolvido. Agora, com o primeiro lote já em Paranaguá, o Brasil entra no raio de ação desse projeto compacto, leve e afinado para o uso diário.

O que é o EX2 — além do óbvio
O EX2 nasceu para ocupar o núcleo do mercado: porte de hatch compacto (cerca de 4,14 m de comprimento e 2,65 m de entre-eixos), bom aproveitamento de espaço e massa contida. Em engenharia, menos peso é mais autonomia, mais agilidade e menor custo de bateria — o componente que manda na conta de um BEV.

A base técnica explora dois caminhos de trem de força:
- motores de 58 kW ou 85 kW, calibrados para cidade e anéis viários;
- baterias LFP em dois patamares de capacidade (≈30 kWh e ≈40 kWh), combinando robustez térmica com ciclagem alta — perfeita para quem recarrega pouco e usa muito.
Em números de referência do mercado chinês, isso se traduz em 310 a 410 km no ciclo CLTC, com estimativa realista WLTP na casa de ~250 a ~350 km conforme versão. A recarga rápida entrega 30–80% em pouco mais de 20 minutos em condições ideais. Para o uso urbano, significa “carregar no tempo de um café reforçado”.
Por dentro da arquitetura
O pack utiliza química LFP (lítio-ferro-fosfato), preferida em compactos por segurança térmica e custo por kWh. O gerenciamento fica a cargo do BMS, que vigia tensão, corrente e temperatura, equaliza células e protege o sistema em milissegundos. O arrefecimento é dimensionado para manter C-rates de recarga de rotina sem flertar com lithium plating (o vilão de cargas rápidas a frio). Na eletrônica de potência, o conjunto opera em arquitetura 400 V, corrente mais alta e cabos mais espessos que em plataformas 800 V, porém com ótima relação custo/benefício no segmento.

Por que isso importa?
- LFP alonga a vida útil e tolera abuso térmico melhor que químicas de alta densidade — essencial em climas quentes e uso intenso de aplicativos.
- Pack compacto + massa baixa significam consumo (kWh/100 km) contido; menos energia para mover o mesmo trajeto.
- Curva de recarga curta até ~80% favorece paradas breves e previsíveis no dia a dia.
Posicionamento e rivais
O EX2 mira a faixa “compactos elétricos de entrada”, onde estão BYD Dolphin/Dolphin Mini e GWM Ora 03. O trunfo não é “ganhar no papel” contra um rival específico, mas otimizar o conjunto: custo total de propriedade (energia + manutenção), espaço interno e uma experiência de recarga que não dependa de milagres. O mercado doméstico chinês provou o recado com números — e a estratégia agora é replicar a fórmula com tropicalização de software, conectividade e serviços.
Experiência de uso: o que esperar
- Autonomia prática: suficiente para uma semana urbana típica sem ansiedade, sobretudo se o usuário tiver AC residencial de 3,7–7,4 kW.
- DC ocasional: viagens curtas ou intermunicipais funcionam bem com uma parada planejada; o segredo é chegar ao carregador com SoC baixo (10–20%) e sair por volta de 70–80%, quando a potência começa a cair.
- Custo por km: em redes tarifárias padrão, o kWh em casa tende a sair múltiplos mais barato que gasolina por quilômetro equivalente, além de manutenção mínima (sem óleo, sem escapamento, sem embreagem).
O que observar no lançamento brasileiro
- Preço e versões: a faixa deve orbitar o coração do segmento de entrada elétrico; o degrau entre 30 e 40 kWh será decisivo.
- Rede e conectores: a compatibilidade com CCS-2, status em tempo real e transparência de preço por kWh em apps são parte da experiência.
- Garantias e BMS: janela de SoC recomendada (ex.: 10–80% no dia a dia), política de software OTA e cobertura de bateria por tempo e por “ciclos equivalentes” merecem atenção.
- Assistência: funil de pós-venda, disponibilidade de peças de alta tensão e treinamentos da rede — elétrico se sustenta na operacionalidade, não só na ficha técnica.
No fim, o EX2 não promete reinventar a roda; promete torná-la acessível, previsível e bem afinada. Se preço, rede e pós-venda caminharem no mesmo compasso, o elétrico “simples e certo” pode ser exatamente a virada que o consumidor brasileiro esperava.